A alma deste artigo está em responder ao questionamento do título acima. O autoconhecimento é o maior desafio para se instituir uma cultura inclusiva assertiva e bem sucedida.
Há um grande paradoxo humano que instala a dimensão social na vida de homens e mulheres. O ser humano tem natureza social, inexoravelmente. A começar por nascer do encontro afetivo de duas pessoas, que unem suas células e seus dados genéticos para dar origem a uma nova vida. Cada pessoa, portanto, já vem ao mundo como expressão de um fenômeno social.
Em segundo lugar, porque estamos diante do fato de que ninguém é capaz de conhecer a si mesmo sem a relação com o outro. O desenvolvimento da identidade de uma pessoa ocorre exatamente pelo caminho da individuação, quando cada um, ao se separar dos demais, cria a base de sustentação de sua identidade. E esse é um processo que se estabelece diante dos membros da família, dos colegas da vida escolar, dos amigos de convivência, e vai se completando ao longo da existência.
No entanto, a formação da identidade de cada indivíduo recebe as influências dos valores e crenças da família, e de todos aqueles com quem se relaciona, incluindo a cultura existente da sociedade em cada contexto ou ambiente social. Assim, nasce com a identidade pessoal os preconceitos sobre si mesmo, as crenças limitantes que pesam sobre o potencial de se realizar e, principalmente, as sombras que acompanham cada um, e que estão guardadas no campo do inconsciente, ou conscientemente reprimidas, colocadas fora da luz que elucida o ser que se expressa.
São por esses aspectos que o sujeito social perde a dimensão da igualdade humana. E aquilo que deveria ser percebido apenas como aspectos de diferenciação, como a raça, o gênero ou a orientação sexual, ou ainda deficiências físicas ou psicológicas, todos estes aspectos ganham dimensões de valoração e estigma. Com isso, desenvolveram-se os preconceitos que foram reforçados por condições históricas como a escravidão de negros, a dominação de homens sobre as mulheres e a perseguição de orientações sexuais fora da hetero sexualidade, assim como diante da elevada exigência da produtividade no ambiente do trabalho pós revolução industrial.