Desde que o ChatGPT apresentou para o mundo as maravilhas da inteligência artificial, há quase dois anos, observo uma divisão entre profissionais, até mesmo em uma mesma empresa: os que resistem categoricamente à inteligência artificial e os que a abraçam de maneira irrefletida. Os primeiros temem que robôs e plataformas impulsionados por essa tecnologia roubem seus trabalhos. O segundo grupo acredita que a IA resolverá todos os seus problemas, e que ela fará seu trabalho.
Ambos estão redondamente enganados! Como em tudo na vida, a verdade se afasta dos extremos e vem do equilíbrio. Resistir à inteligência artificial hoje configura um grave erro, pois quem fizer isso perderá competitividade de maneira crescente de agora em diante. Deslumbrar-se com seu poder pode, por outro lado, impedir um uso efetivo de seus recursos
Ainda assim, essas percepções equivocadas são compreensíveis. A inteligência artificial, particularmente a IA generativa do ChatGPT e seus concorrentes, rompeu uma barreira inédita: pela primeira vez na história, algo não-humano conseguiu se comunicar de maneira complexa e consistente.
“Uma vez que as habilidades semióticas habitam no cerne do humano, compondo sua especificidade enquanto espécie, parece bizarro e assustador que uma criatura inorgânica seja capaz de simular e reproduzir justo aquilo de que a espécie humana se orgulha por seu ineditismo”, explica Lucia Santaella, professora da PUC-SP e uma das maiores autoridades globais em semiótica. “Claro que erra e alucina, o que o torna ainda mais human like, pois errar é algo que o humano repetidamente faz”, acrescenta.
Isso parece mágico e seus resultados são realmente muito impressionantes. Ainda assim, não passa de uma tecnologia bastante falha, por enquanto.
Mas não nos enganemos: o que puder ser automatizado será! Muitas pessoas já perderam seus empregos e muitas outras ainda perderão. Porém gestores que acham que podem simplesmente trocar profissionais por robôs incorrem em um grande erro, não apenas pela falibilidade intrínseca da tecnologia, mas também por aquilo que ela simplesmente não realiza ainda.