Eu tenho pensado nessa questão desde o dia em que ganhei uma blackberry, lá na antiguidade da era tecnológica, e passei a usar um aparelho como extensão da minha mão.
Esse aparelho evoluiu com mais e mais funções e habilidades até tomar conta do meu comportamento de tal forma que passou a ocupar o papel central de externalização dos meus pensamentos e sentimentos.
E como nós temos nos comportado com relação a isso?
Quando eu pensava na tecnologia dominando o mundo, eu imaginava a revolução dos robôs: aquele cenário apocalíptico blade runner.
Começa com esses robôs fofinhos que a gente faz, com patinhas e cara de filhote de ursinho, até para tentarmos dar uma certa humanidade a eles. Até que chega o dia em que o humano diz para o robô - desliga - e o robô responde - não desligo - pronto, explosão de luzes e sons, robôs dominando o mundo, tudo sem controle.
Só que isso está muito longe ou muito perto de acontecer e, realmente, não me importa, porque está fora do meu controle.
O que me importa e me deixa apreensiva é uma revolução muito mais sutil que acontece e que passa despercebida. Ao delegar os nossos pensamentos e sentimentos a esse aparelho que colou nas nossas mãos, estamos transferindo a nossa capacidade de pensar e de tomar decisões.
Um exemplo corriqueiro: o gps. Eu uso o gps para ir para tudo quanto é lugar. Muito mais ágil do que aquele calhamaço do guia que tinha antes. Não preciso pensar, nem calcular o tempo do trajeto, não me preocupo em me perder, não planejo o caminho. Vou apenas seguindo, obedecendo.
Quantas vezes você já ouviu alguém dizer que se atrasou porque o gps mandou ir para outro lugar? Acontece que o gps não manda em nada. Não podemos dar esse poder a ele. O gps é um programa de software que coleta dados e faz sugestões com base em um histórico de uso. Cabe a nós, seres humanos, analisar a sugestão e tomar uma decisão consciente.