Sofia está ansiosa. Enquanto caminha ao encontro de seu pai imagina mil desculpas para o acidente de percurso com sua nota em história. Mais um escorregão. Ela vem tentando mudar as coisas, mas não adianta muito. O esforço compensa pouco. O corredor que liga seu quarto ao escritório parece ter quilômetros. Quando, finalmente, chega, encosta o ombro no batente e chama: “Pai”. A resposta curta enquanto mantém o olhar fixo na tela denuncia impaciência: “Oi”. Ela olha para baixo, quase se vira de volta, mas toma coragem. “Chegou o boletim com as notas do bimestre.” Ele joga o corpo para traz, gira a cadeira e a encara com esperança, que desmorona, ao encontrar um semblante vazio. Ela estende o papel, ainda na temperatura da impressora e o solta quando sente um leve puxão. “De novo”, pensa ele. Dez em matemática e quatro em história. Todo bimestre esse é o tom. Arrasa nas exatas. Para felicidade de Pitágoras. E derrapa nas humanas. Para decepção de Heródoto. Ele olha para Sofia e começa a velha conversa.
Agora é com você leitor. Se esse diálogo durar quinze minutos, quantos deles você aposta que serão dedicados a discutir a nota quatro de história? E quantos ao dez de matemática? Pois é! Posso apostar que sua resposta parece com as centenas que escutei nos cursos de formação e certificação internacional de coaching que ministramos. Quase todo tempo dedicado ao fracasso. Afinal, a nota boa não é mais que a obrigação, certo? E na hora de contratar um professor particular: do que será? História novamente. Nada de errado nisso, afinal a menina precisa de ajuda. Não é esse o ponto. O problema é ignorar o que está indo bem.
Agora, pense comigo: como será a Sofia em história daqui a alguns anos? Provavelmente média. Ela não flui por aí. Vai se esforçar, receber ajuda e vai chegar na média. Nada mal. E em matemática? Como ela será em dez anos? É bem possível que seja média também. Afinal não terá sido estimulada e não nutrirá todo o interesse que poderia por essa fascinante área do conhecimento. Média em matemática. Média em história. Média em Física, Geografia e Biologia. Então pergunto: como se chama uma pessoa média em tudo? Pois é: medíocre. Apesar de ser uma palavra pesada, é isso que significa. No Dicionário Michaelis é, literalmente: que apresenta qualidade média; comum, meão, mediano.