Para parte da população mundial, o dia 11 de setembro de 2001 ficou para sempre gravado na memória. Não se lembra o que houve nesse dia? Foi o dia do ataque às torres gêmeas nos Estados Unidos. Para muitos, uma memória extremamente traumática que mudou inclusive de forma muito concreta como países e diferentes culturas se relacionam. Para uma parte da população, é um dia para comemorar e celebrar um ataque ao mundo capitalista ocidental. E, para outros, essa memória não traz nenhum significado especial nem emocional. A memória humana é assim: independente dos fatos, a forma como ela ficará gravada em alguns sempre será diferente de outras pessoas.
Os eventos que experienciamos no mundo afetam cada indivíduo de forma diferente. Em tudo que nos acontece ganhamos consciência através da memória, ou do processo da memória. É pela memória que sei que algo aconteceu, que sou de determinado jeito, que esta é minha família e não aquela outra. E é através desse processo que identifico quais memórias são relevantes e quais não, sendo logo descartadas. Com certeza muitas pessoas já quiseram apagar da memória esse dia 11 de setembro. Sem memória planejar o futuro também seria impossível. É pelo conjunto de saberes do que se passou que sabemos o que existe e planejamos o que poderá vir a ser.
Mas esse processo de guardar informações e recuperá-las em nossa mente é complexo, cheio de nuances e fatores que influenciam a capacidade de armazená-las e, principalmente, como serão armazenadas. Um evento traumático altera de forma crucial a minha percepção de realidade e de como eu vou perceber o mundo a partir daquele ponto pois a memória é codificada de forma diferente em nosso sistema nervoso. Para entender como isso funciona, vamos falar um pouco sobre o processo da memória.
“Somos aquilo que lembramos”, disse Norberto Borbio (1997).
A memória tem um papel fundamental, vital na construção de nossas vidas e personalidades. Indo mais longe, a memória é peça fundamental da vida.
Memória é o processo de adquirir, gravar, armazenar e recuperar informações (IZQUIERDO). Toda a vida se baseia no processo de recuperar e reproduzir a memória presente em cadeias de DNA o que garante a reprodução e continuação de todas as espécies. O que nós chamamos de “eu” é uma construção a partir dos registros de nossa experiência, do que se manteve, dos traços de comportamento que perduram ao longo do tempo; uma certa forma de humor, de reagir a determinadas situações; gostos culinários, culturais que se repetem. E, também, os traços que vão se alterando ao longo do tempo, mas que ainda reconhecemos como nossos. Somos também, de forma paradoxal, aquilo que não somos mais. Aquilo que esquecemos.