“Você me diz que seus pais não lhe entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo
E isso é absurdo
São crianças como você”
Ao pensar no tema deste artigo, me lembrei da música “Pais e Filhos” da banda Legião Urbana. Letra densa e tocante, como eram em geral as letras do saudoso Renato Russo.
Ela fala de um suicídio aparentemente incompreensível, de filhos desamparados e de pais infantilizados. O pano de fundo das situações ilustradas na música é o que os especialistas em trauma chamam de trauma de desenvolvimento, também chamado de trauma de infância, emocional ou de vínculo. No atual DSM (o manual de diagnóstico das doenças mentais), essa categoria específica recebeu o nome de transtorno de estresse pós-traumático complexo.
Na minha prática como terapeuta integrativa, recebo clientes com os mais variados sintomas, mas muito comumente as queixas envolvem falta de força ou motivação para fazer coisas que gostariam de fazer, relacionamentos disfuncionais, dificuldade de se posicionar assertivamente, de estabelecer limites saudáveis, ansiedade, doenças crônicas como alergias, doenças autoimunes, depressão… Na base está uma dificuldade para fazer a vida acontecer do jeito que eles/elas idealizam.
Trabalhando com o método Somatic Experiencing®, por meio do qual exploramos sensações, emoções e pensamentos, descubro sentimentos de impotência, medo de rejeição, desamparo, solidão, tristeza, vergonha, culpa, baixa autoestima, paranoia, compulsões diversas (consumo, álcool, comida, medicamentos), irritabilidade, falta de confiança em si e no mundo. Subliminarmente, os significados dos pensamentos são limitantes e autodepreciativos: “se eu não agradar não serei amado/amada”, “não sou bom/boa o suficiente”, “não mereço coisas boas”, “não sou capaz de fazer as coisas que eu preciso/quero fazer”, “eu sou mau/má” ou “o mundo é mau”.