Afinal, o que é trauma?
Para muitas pessoas, esta palavra se refere a um episódio extremamente violento ou ameaçador, que deixa marcas pela vida inteira e do qual ninguém se recupera. É comum que se escute dizer por aí: trauma não tem cura.
Mas tem!
Na verdade, o conceito de trauma vem sendo transformado a partir dos estudos de pesquisadores sobre o tema, e sendo compreendido agora como o impacto que o sistema nervoso de uma pessoa tem frente às experiências vividas.
O ser humano, como outros animais, possui um mecanismo instintivo e inato de enfrentar desafios. Todos nós já ouvimos falar no mecanismo de estresse, por exemplo, que é uma resposta de aumentar a tensão corporal para termos mais energia para enfrentar uma situação.
Esse mecanismo, que é conduzido pelo Sistema nervoso autônomo (SNA), tem dois ramos. Um ramo faz a tensão aumentar para podermos ter reações de luta ou fuga (o sistema nervoso simpático) e o outro ramo (sistema nervoso parassimpático) cuida de modular estas reações e ajuda o organismo a voltar ao equilíbrio depois que o perigo passa. Este mecanismo, essencial para a sobrevivência, não só é adequado como é extremamente necessário. Funciona de maneira instintiva, sem qualquer decisão intencional do nosso cérebro voluntário.
O que acontece em algumas situações é que a quantidade de estímulo que o sistema de uma pessoa recebe em determinada experiência pode ser excessiva para que esse equilíbrio descrito acima ocorra. Nem todas as pessoas tem a mesma resiliência interna para processar o que acontece num determinado momento e seu cérebro e sistema nervoso precisam encontrar maneiras de conter o excesso de estímulos. Isso é feito “segurando” internamente a tensão produzida no momento e, a partir daí, o padrão que foi gerado naquele momento fica fixo no organismo da pessoa.
Um exemplo disso é a pessoa que teve um susto grande ao ser atacado por um cachorro quando criança (mesmo que não tenha chegado a ser mordido) que desenvolve um medo por estes animais e como adulto não consegue se aproximar de nenhum cão, nem filhote. O seu sistema aprendeu que cachorros são perigosos sempre e isso impede que a pessoa avalie se a situação atual realmente oferece ameaça. Repetindo o colocado no parágrafo acima, todo esse processo não é um mecanismo voluntário ou intencional, acontece a partir de planos de defesa inatos ao nosso sistema, somado aos aprendizados que o corpo foi tendo ao longo da vida.