A sigla ESG tem se tornado cada vez mais popular nos ambientes corporativos, tendo em vista uma crescente preocupação destes setores com os impactos de sua atuação nas pessoas, no meio ambiente e na sociedade. De uma forma simplificada, podemos explicar a que sigla, que tem como referência os termos em inglês Environmental, Social and Corporate Governance (ESG), que está relacionada com um olhar mais atento, dentro da empresa, às questões de caráter social, ambiental e de governança corporativa. Neste artigo, apresento, de forma introdutória, um recorte dentro do viés social dos princípios do ESG relacionados à pauta racial, que afeta profissionais negros, em diferentes espaços, no ambiente corporativo. Pretendo destacar a importância das lideranças negras para que, de um lado, a atuação das empresas seja responsável por uma transformação social efetiva, no que diz respeito ao racismo que ainda se manifesta em nosso país, e, por outro lado, apontar caminhos para ampliar o alcance institucional desta atuação, tendo como premissa o antirracismo.
Com o advento de reflexões mais contundentes sobre a pauta racial - mesmo diante de uma série de retrocessos e com o avanço do conservadorismo em todo o mundo - algumas possibilidades são colocadas diante de quem pretende contribuir para a ampliação da presença negra em espaços de poder, buscando diminuir as gritantes desigualdades que se colocam para esta parte da população. Uma dessas possibilidades tem a ver com o incremento da presença de pessoas negras nas lideranças de instituições, públicas e privadas, de quaisquer áreas - saúde, jurídica, cultural, de tecnologia etc. - que podem, em grande medida, colaborar para a implementação de ações que sejam minimamente eficazes na luta por igualdade racial.
Embora se saiba que a busca por justiça e igualdade social voltadas para pessoas negras perpassa diferentes áreas de atuação e campos de conhecimento, é necessário entender que, independentemente da área em que as atividades sejam desenvolvidas, é fundamental que haja representatividade negra em todos espaços dentro das empresas – o que merece especial atenção quando tratamos das questões ligadas à contratação, retenção, manutenção e desenvolvimento dos profissionais negros – além de estas pessoas participarem de todas as etapas do processo de trabalho – desde a concepção, passando pelo planejamento e execução dessas atividades – a fim de eliminar ou diminuir a ocorrência de situações que envolvem racismo, explícito ou velado, nos serviços que estas empresas prestam à sociedade. Neste sentido, o antirracismo e sua referência na adoção de práticas somadas ao discurso de busca pela igualdade social entre pessoas negras e não negras, faz toda diferença quando se pensa no recorte social das práticas ligadas ao ESG.
O conceito de antirracismo refere-se às práticas que são possíveis de serem adotadas no sentido de combater o racismo que está impregnado na sociedade brasileira; parafraseando Ângela Davis, militante negra que atuou na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, não basta não ser racista, é necessário ter atitudes efetivas no enfrentamento ao racismo em quaisquer lugares onde se possa atuar. Neste caso é importante diferenciar a discriminação racial – uma situação pontual ocasionada por fatores diversos que afetam diretamente as pessoas que estão envolvidas no ato discriminatório – e o racismo, que se coloca como parte estruturante da nossa sociedade, e afeta a todas as pessoas negras, em situações e espaços diversos, com alguns agravantes relacionados ao gênero, local de nascimento, faixa etária, existência ou não de deficiência, entre outros.