O título desse artigo representa um consenso em urbanismo: aumentar a densidade urbana incrementa a eficiência da infraestrutura urbana e a intensidade da interação social e, assim, a cidade se torna mais habitável e sustentável.
Proponho investigar melhor essa correlação quase unânime entre urbanistas: ela pode ser reconfigurada para que possamos propor, desenvolver e implementar cidades que sejam regenerativas, e não apenas sustentáveis.
A crise ecológica não será resolvida por meio dos modelos urbanísticos consagrados.
Primeiramente, é preciso reconhecer que as cidades, especialmente após a Revolução Industrial, são “desastres ecológicos normalizados”: vemos como normal e aceitável a tremenda pegada ecológica de tecnologias urbanas e estratégias de ocupação territorial nocivas ao meio-ambiente e ao bem-estar social. Em segundo lugar, sabemos hoje que os danos causados por esse desastre são mais graves do que se imaginava, e que a chamada “sustentabilidade” não será o suficiente para evitar-se crises socioambientais ainda mais graves.
Os modelos consagrados de urbanidade pouco fazem quanto à regeneração dos biomas. Procura-se apenas mitigar os efeitos negativos da urbanização, considerados inevitáveis. A resposta geral para encaminhar essa mitigação é a chamada “Cidade Compacta”. No entanto, faz-se necessário um novo conjunto de tecnologias e estratégias urbanas para que a humanidade consiga reparar os graves e extensos danos causados à natureza.
Por outro lado, vemos surgir um importante repertório tecnológico baseado em “sistemas distribuídos”, cujo desempenho não requer concentração territorial: tecnologias como a biodigestão de efluentes humanos, a cogeração de energia em smart grids, a telecomunicação pessoal popularizada, a agricultura urbana, Blockchain e open banking, dentre muitos outros. Um repertório que questiona uma das características mais aceitas da cidade: que ela é necessariamente um fenômeno concentrado no território, sinônimo de alta densidade populacional.