Muito do encantamento pelo mundo que não raro nos atravessa se dá pelo fato de, como seres humanos, podermos vivenciá-lo e experimentá-lo por meio dos sentidos e, ao mesmo tempo, pensarmos sobre ele criando explicações que se propõe a expressar o que se produz em nós a partir das vivências.
É assim que as grandes narrativas são geradas, tanto aquelas que contam – pela ótica do narrador - algo que aconteceu, como fazem os historiadores e os jornalistas, como aquelas que criam ou incrementam a realidade, como as contadas pelos escritores, cujos estilos literários envolvem e apresentam realidades muitas vezes inimagináveis.
A filosofia tem um papel que se assemelha e se distingue neste contexto, pois, se de um lado também cria realidades muito concretas quando propõe um conceito - como por exemplo o de justiça - ela assume para si, dentre tantas outras tarefas, a de aprofundar discussões que nem sempre têm espaços na vida cotidiana, possibilitando a ampliação da envergadura de nosso pensamento.
A importância das superfícies
Tenho a tarefa hercúlea de responder à pergunta pela ontologia, que farei de forma bastante parcial, tanto pelo recorte temático deste texto, como por sua extensão, além de também acreditar que toda resposta filosófica além de parcial e contextual, é um exercício reflexivo que se desdobra para além da pergunta.
Então, afinal, o que é ontologia?
Cada vez que começamos a pensar sobre um determinado tema ou conceito, é como se estivéssemos diante de um rio que tem na superfície sua área mais acessível, e que raramente se dá a conhecer ou expõe suas belezas na primeira aproximação. Só conseguiremos conhecer nuances, formatos, velocidades, intensidades e profundidades, na experiência com suas águas, no contato, na observação curiosa, na medida em que entramos nele e sem que jamais sejamos capazes de descrever sua totalidade. Amanhã ele será outro e nossa próxima experiência com ele será acrescida da experiência anterior, possibilitando novos olhares.