Recentemente, os brasileiros decidimos passos importantes da nossa história escolhendo nossos representantes nos poderes executivo e legislativo. No período pré-eleitoral, refleti muito sobre o meu papel como cidadã e fiquei mais atenta à mobilização das pessoas que me cercam. Poucos de nós reclamamos, reivindicamos ou reagimos às muitas situações que nos impactam negativamente todos os dias. Só para citar um exemplo: na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde vivo, os poderes da milícia, uma espécie de poder paralelo conectado a atividades criminosas, crescem vertiginosamente. Nas comunidades da região, nenhum prédio é construído, serviço contratado ou lojinha aberta sem a aquiescência dos milicianos que impedem qualquer tipo de iniciativa que não lhes pague comissionamento. Como os cidadãos em geral reagem? Quem se opõe o faz discretamente entre amigos e aqueles que são diretamente impactados aceitam que nada podem contra o grupo e pagam as comissões exigidas.
E o que isso tem a ver com a nossa ontologia? É que me pus a examinar o estado de ânimo da população carioca, para não me estender a outras cidades cuja realidade não vivencio. Encontro a resignação como predominante, visto que escuto muitas declarações de que a situação que vivenciamos como cidadãos em diferentes âmbitos não pode ser modificada e de que tudo depende de uma transformação da atuação do poder público. Não são muitos cidadãos que veem o futuro social como um espaço em que se pode intervir e modificar. É como se, em conversas privadas, dissessem a si mesmos: “Se tudo depende da esfera política, onde há corrupção e jogos políticos que versam em torno de interesses que não o da população, o que resta a mim, cidadão, senão a oposição silenciosa?”