Ética é um tema amplo, complexo, dinâmico, essencialmente filosófico, moral e cultural, então quando o João Pasqual me convidou para fazer parte desse dossiê, imaginei que tentar concretizar o tema poderia ser útil aos leitores da revista.
Pesquisas são uma maneira de obter concretude, porque elas são respondidas por sujeitos, como você e eu, que vivenciam os desafios éticos na prática. As pesquisas também podem identificar as estratégias mais utilizadas pelos coaches e nos inspirar a fazer o mesmo ou pelo menos tentar. Por isso, de imediato pensei em explorar os resultados de algumas pesquisas, que podem ser úteis para nossa reflexão.
A pesquisa de Maria Biquet
Esta recente pesquisa (2020), envolveu 353 coaches associados da EMCC e investigou a frequência e o tipo de dilemas éticos que os coaches estão enfrentando, além das estratégias que utilizam para lidar com eles.
Eis um resumo super resumido dos resultados:
De acordo com a pesquisa, os tipos de dilemas diferem ligeiramente entre os gêneros, mas a frequência é maior entre as pessoas que declararam ser do sexo feminino.
Coaches que realizam mais de 120 horas de coaching por ano responderam ter enfrentado mais dilemas do que coaches com menos horas, a propósito, 3,4% dos coaches com menos horas responderam que tiveram zero dilemas. Vejas os principais resultados de frequência:
● 72% responderam que tiveram de 1 a 4 dilemas éticos nos últimos 12 meses
● 15,7% responderam que não enfrentaram dilemas éticos nos últimos 12 meses
● 7,3% responderam que jamais tiveram um dilema ético em sua prática de coaching
De acordo com os dados da pesquisa de Biquet, os anos de experiência como coach parecem não afetar a frequência dos dilemas, mas o tipo de dilema muda significativamente ao longo do tempo. Para os coaches iniciantes o maior dilema é sobre a própria competência, um indicador que cai entre os coaches com 3 a 10 anos de experiência e volta a subir em coaches com mais de 10 anos de experiência. Com os anos de experiência a maior incidência de dilemas está no conflito entre patrocinadores e clientes.
Um choque de valores entre o coach e o cliente é a fonte mais comum de dilemas (42,2%), seguida por questões ligadas à confidencialidade, contratação e recontratação, gestão de limites (coaching X consultoria X mentoria X terapia) e mudanças de objetivo.
Ao investigar as estratégias para lidar com dilemas éticos, a pesquisa de Biquet descobriu que Códigos de Ética são uma fonte de informação para vários coaches, mas ainda não a primeira escolha (23,3%) ao enfrentar um dilema.