O céu parece cair, o chão some, a luz se perde, o tempo foge, memórias congelam e o ar escapa... encolhimento, retração, terror, paralisia...
O que mais? Há quem diga que o pior medo é o medo de sentir medo. Temos medo ou ele nos tem? Além dos vestígios pessoais, o medo é uma herança ancestral e cultural e por isso confrontá-lo e lidar com ele parece inevitável a qualquer ser humano e vale ressaltar que oposto do medo não representa a coragem, mas simplesmente o “não-medo”.
Jung2, sugerem que a espécie humana é dotada de uma “mente imortal”, um grande repertório adaptativo, cujos estratos denotam sua evolução moral e cognitiva desde tempos primordiais. É como se cada um de nós carregasse dentro de si um estranho de um milhão de anos, portador inconsciente das memórias de aflições, especulações e medos nascidos da experiência humana através dos tempos. Livrar-se de nossos medos pode então não ser uma coisa tão simples ou corriqueira.
Ainda segundo Jung, a maioria das dificuldades vividas na modernidade resultam da perda de contato com nossos instintos e com essa antiquíssima sabedoria adaptativa armazenada. Trata-se de um recurso fundamental a qualquer um que se sinta derrotado em sua luta com problemas da existência individual ou coletiva. Esperanças e apreensões mais intimas, sonhos e fantasias, amplos redutos das mais variadas formas de medo, constituem uma importante chave para o contato com este ser antigo dentro de nós. E ele, vez ou outra, dá as caras quando menos esperado, por exemplo, quando do médico ouvimos o diagnóstico: “é grave”!
Muito embora vivamos uma época supostamente direcionada pela racionalidade científica e tecnológica, existimos em cosmovisões mais amplas, que incluem também política (conciliação de interesses), arte (modos e linguagens de expressão) e religião (crenças e expectativas de transcendência), temas estes que pautam ainda que de modo inconsciente, nossos medos, esperanças e decisões. Segundo Eudoro de Souza nossa vida e essa é seguramente uma das maiores fontes de medo em nossa existência.