O alarme do celular é o primeiro som que escuto, bem cedo. Algumas “sonecas”, e logo estou curioso para descobrir todas as incríveis novidades que podem ter acontecido enquanto o mundo todo dormia: passo o olho no Face, no Whats e no email. Eventualmente me deparo com um email do chefe, com a mais recente crise no trabalho, e a primeira pontada de dor de cabeça, ainda tímida, se anuncia. Banho rápido, café mais rápido ainda.
Quando me lembro despeço-me da minha esposa. Geralmente saio às pressas reclamando que por culpa dela vou chegar atrasado.
No trabalho tudo começa bem. Deixei tudo organizado ontem e sei o que tenho que fazer hoje. Mas invariavelmente, dez minutos depois, chega aquele email, e aquele outro, e mais outro, e meu foco se perde. O colega da mesa ao lado pede ajuda, o telefone toca, o Whats não para e as reuniões se amontoam.
Saio para almoçar na hora perfeita, quando tudo é fila. Fila pra se servir no buffet, fila pra encontrar mesa, fila pra pegar o sal e o guardanapo, fila pra pagar. Meia hora depois estou de volta na minha mesa; ou menos de meia hora, quando alguém me avisa que precisam de mim em uma reunião agendada às pressas. Nesse momento a dor de cabeça já perdeu toda a timidez (ou todo o respeito).
Durante a tarde a história se repete, quando não piora. Seis da tarde, sete, e ninguém vai embora: continuam na mesma corrida maluca, encontraram finalmente tempo para fazer o que haviam planejado ou não querem ser vistos como desmotivados.
Depois vem trânsito, novela, comida descongelada, jornal. As notícias ruins fazem parecer que, também no mundo, nada, ou pouca coisa, vai bem.
Em casa o celular continua meu inseparável companheiro, afinal alguma coisa de interessante sempre acontece na vida de algum estranho, ou conhecido distante, e não posso deixar de ser o primeiro a curtir. As vezes esse companheiro digital traz até uma bomba do trabalho, e, se eu não estiver conectado posso perder a sublime chance de antecipar a dor de cabeça de amanhã cedo!