Quero ver os fogos lá de fora!
Foi o que eu disse em tom sorridente, já pronta para compartilhar as boas-vindas de Ano Novo. Com algumas colheradas de lentilha a caminho do estômago, retirei cuidadosamente duas sementes de romã que me escaparam dos dedos rumo à minha roupa branca imaculada. Eram para ser guardadas na carteira. Eu conhecia essa tradição desde pequena, sem nunca ter entendido qual sua relação com garantir dinheiro no bolso. Acontece que, bem na hora do 3 – 2 – 1, uma sensação fulminante dirigiu toda a minha atenção aos meus pés. Estavam repletos de formigas que acabei pisoteando distraidamente em seu discreto lar, em pleno jardim. Danou-se, pensei, logo que consegui apagar o fogo do ácido fórmico que me corria pelas veias dos pés e pernas. Não estava lamentando exatamente a dor que senti, nem as marcas que ficariam na pele por um tempo. Meu incômodo maior foi imaginar a possibilidade de ter trazido mau agouro para o meu novo ano quando o adentrei com o pé esquerdo, literalmente, no formigueiro.
Não, caro leitor, asseguro que minha distração nada teve a ver com as agruras que enfrentamos nesses dois últimos anos. Isso já tem um tempo que aconteceu. E o ano que vivi após aquela famigerada virada não foi diferente de nenhum outro, nem pelos momentos alegres, nem pelos tristes. Não foi mais nem menos surpreendente do que outros que vivi. Então, por que cheguei a me preocupar com o acontecido, como se isso pudesse direcionar minha boa ou má sorte do ano vindouro?
Stuart A. Vyse, autor do livro “Believing in magic: the psychology of superstition”, afirma que por trás desses tipos de crenças está a conhecida necessidade humana de querer controlar todos os aspectos da vida. E por que nos comportamos assim? Acontece que somos movidos por uma emoção universal que é o medo, especialmente do que desconhecemos. Vai daí que, em circunstâncias incertas, se você se engaja em algum ritual, pode se sentir melhor ou aliviado, embarcando em uma espécie de “ilusão do controle”, mesmo que conscientemente você não esteja nem um pouco preocupado com qualquer explicação racional para isso.