Como alguém que aprecia uma boa aventura, sempre que penso em Ano Novo, imagino uma viagem para um lugar inédito. Ao mesmo tempo em que meu íntimo é inundado pelo entusiasmo e excitação de logo colocar o pé na estrada, meu senso de responsabilidade me deixa alerta em relação a preparação, procedimentos de segurança e o planejamento. Em toda viagem, seja ela curta ou longa, precisamos levar alguma bagagem, certos recursos, equipamentos, definição de papéis (quando numa equipe), planos de contingência, GPS e um mapa. E por melhor que seja a preparação, na hora do vamos ver, muita coisa pode acontecer, pois já aprendemos que mapa não é território.
Na grande jornada da vida, um Novo Ano é apenas mais uma etapa de nossa história. A cada novo ciclo, nunca chegamos e partimos vazios ou sozinhos; mas sim repletos de conhecimentos, habilidades e experiências adquiridas que nos possibilitam fazer escolhas mais acertadas e a superar adversidades inesperadas, como as que vivemos nos últimos dois anos. Penso que nunca devemos deixar de olhar para trás, lembrando os perigos vividos e suplantados (lembrar deles, nos deixa mais espertos), os aprendizados assimilados e os vínculos firmados. São eles que garantem o repertório para avançar mais uma fase.
Quando penso em Ano Novo, por alguns instantes, me inspiro pelas histórias familiares. Aprecio e me divirto quando escuto as histórias dos meus pais e tios sobre os seus pais, suas jornadas e desafios. Meu avô paterno, por exemplo, chegou ao Brasil com apenas 10 anos de idade, na década de 1900. A família saiu da Espanha, talvez fugindo da pobreza, na esperança de uma vida melhor. Além do drama da partida, da viagem sem volta para uma terra desconhecida, consta que um dos irmãos morreu durante a viagem de navio. Tento sentir o sofrimento dessas e outras mudanças involuntárias que os meus e os seus antepassados enfrentaram e, que mesmo assim, seguiram em frente. Me pergunto sobre quais as crenças e valores sustentaram suas vidas, que de alguma forma, herdamos também. Quais suas motivações para crescer, prosperar e persistir? Será que a esperança foi um ingrediente fundamental para vislumbrar dias melhores?