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Edição #101 - Outubro 2021

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Autocuidado: um caminhar ético pelo mundo

Quantas vezes você ouviu ou disse, no último ano, a seguinte frase: “estou cansado”?

Eu nem preciso exercitar muito a minha imaginação para adivinhar sua resposta. Aposto que, assim como eu e várias pessoas do seu círculo, mais de uma vez. Capaz até que tenha se sentido à beira da exaustão!

É claro que a pandemia do coronavírus, com todas as mudanças impostas e todas as emoções despertadas, contribuiu muito para essa sensação. No entanto, as pesquisas demostram que, muito antes do SARS-CoV-2 desembarcar em nossas vidas, muitas pessoas já se sentiam sem energia. O Ibope revelou, por exemplo, que, em 2013, 98% dos brasileiros se sentiam um cansaço físico e mental - muitos (61%) relataram já acordar sem disposição. Seis anos depois, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que o Brasil era o país mais ansioso do mundo. Até a conhecida felicidade brasileira parece não ser mais a mesma, segundo relatório mundial elaborado pelo Instituto de Pesquisas Gallup em parceria com a Organização das Nações Unidas em 2020. O Brasil caiu 12 posições nesse ranking, ocupando a 41ª posição, a menor desde 2005.

Bem, o que acontece conosco não é tão diferente do que ocorre em outros países, o que fez com que o filósofo sul-coreano Byung-Chu Han cunhasse a expressão “sociedade do cansaço”. Em livro homônimo, ele descreve com precisão assustadora nosso estilo de vida, pautado por uma positividade que resulta da “superprodução, do superdesempenho ou supercomunicação”, isto é, vivemos um “excesso de estímulos, informações e impulsos”, que “modifica radicalmente a estrutura e a economia de atenção” e nos conduz a um “infarto da alma”. Grande parte das vezes não temos ameaças externas nos rondando, mas nossas cobranças, medos e ansiedades nos fazem capazes de algo talvez nunca antes imaginado: nos tornamos, simultaneamente, vítima e algoz, senhor e escravo...

A pandemia foi um convite (não muito gentil) à pausa e, também, a olhar com mais atenção por onde e como estamos caminhando. Será que a vida que levamos cultiva nossa saúde? Ou a consome? A pandemia direcionou nosso olhar para o coletivo ao mesmo tempo que nos forçou a enfrentar um mergulho pessoal inadiável. E é nesse contexto, que, além do “cansaço”, nunca se ouviu tanto falar em autocuidado.

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