Apesar de conhecido como fundador da psicologia positiva, meu professor de mestrado, Martin Seligman, construiu a carreira estudando depressão. E como um bom pesquisador, nos incentivava a refletir sobre perguntas para as quais ele ainda não havia encontrado respostas. Uma das mais recorrentes era: por que estamos deprimindo cada vez mais? Por mais que o mundo tenha muito espaço para mudanças positivas, os indicadores econômicos e sociais têm melhorado ao longo dos anos. Hoje temos maiores índices de alfabetização, menos fome, menos desigualdade de gênero e menos miséria do que há 70 anos. Ainda assim, as estatísticas de depressão são crescentes.
Quando estudei os dados, senti uma pontada no estômago. Pesquisas epidemiológicas feitas com mais de 600 mil pessoas nos Estados Unidos, mostram que não somos todos que estamos deprimindo mais. Os responsáveis pelo aumento da estatística são principalmente os adolescentes e jovens entre 12 e 23 anos. Entre 2009 e 2017, por exemplo, a depressão aumentou 66% entre adolescentes de 12 a 17 anos. A automutilação entre meninas de 10 a 14 anos triplicou neste período. Não temos as estatísticas brasileiras, mas ao que tudo indica, nosso cenário não é muito diferente disso. E o que torna as estatísticas ainda mais preocupantes é que quanto mais cedo acontece o primeiro episódio depressivo, maiores chances que a doença agrave ao longo da vida e que os episódios sejam recorrentes.
É preciso adolescer sem adoecer
Além de trabalhar com orientação parental, eu tenho dois filhos. Muito mais que um desafio intelectual, investigar as razões por que os adolescentes estão sofrendo tanto passou a ser uma prioridade para mim. Fato é que a adolescência é uma fase difícil por definição. Mas adolescer hoje em dia é ainda mais complicado. Considere a combinação destes quatro fatores.
• Primeiro, temos tido cada vez menos filhos. Por isso os superprotegemos, prejudicando o desenvolvimento da capacidade de enfrentarem seus próprios desafios.
• Segundo, desejamos que eles tenham uma vida mais bem sucedida do que a nossa e por isso superinvestimos no sucesso dos poucos que habitam a nossa casa. O resultado é que eles se sentem pressionados para corresponder às expectativas que são altas demais.