Você já parou para pensar quanto do seu tempo é dedicado ao cuidar?
Se pensarmos bem, o cuidado permeia toda a nossa vida e os nossos relacionamentos, seja no contexto pessoal, familiar, social ou profissional. Ora estamos cuidando de alguém ou de nós mesmos, ora precisamos ser cuidados, noutras vezes, todas estas se intersectam. No entanto, é muito importante compreendermos que cada uma dessas esferas deve ter o seu próprio espaço, preservado e respeitado ou, caso contrário, podemos nos gerar um grande desequilíbrio.
Quando alguém que amamos necessita de cuidado, não hesitamos em oferecê-lo imediatamente. Isto certamente demandará uma mudança em nossa rotina, adaptações e uma maior disponibilidade física e emocional. E então, aqui deve entrar a necessidade de delimitar aquele espaço que podemos dispor para este cuidado, que neste momento pode até estar expandido, porém ele não deve sobrepor o nosso autocuidado, de forma que ele fique completamente comprometido. Não é incomum que o nosso espaço pessoal seja o primeiro a ser negligenciado e no fim, nós mesmos pagamos um alto preço por isto.
Nos olhar e nos cuidar não deve ser estigmatizado como egoísmo, nem deve ser secundário, afinal, como podemos efetivamente cuidar de alguém, oferecendo nosso tempo, atenção e amor se nós mesmos não estamos bem ou se adoecemos? Como Lama Michel Rinpoche 1 diz “quando faço algo por mim estou fazendo para os outros e quando faço pelos outros, estou também fazendo por mim”. Ter esta compreensão deve nos impulsionar a priorizar cuidar de nós mesmos, sem culpa.
A culpa pode ser pesada, avassaladora. Por nos sentirmos culpados no momento em que não estamos cuidando de alguém que precisa, ou culpados por nos sentirmos cansados, ou ainda por pensarmos não estarmos fazendo o suficiente, frequentemente acabamos ultrapassando nossos próprios limites. Por culpa também, podemos não aceitar ou nos abrir para sermos cuidados, quando somos nós que estamos do outro lado. Podemos sentir culpa também por pensar que não nos cuidamos o suficiente. E assim a lista vai... Ou seja, a culpa pode ser uma grande vilã nesta dinâmica, que distorce nossa visão sobre o que estamos realizando dentro das nossas reais possibilidades.