O simples fato de falar hoje em dia vem se tornado cada vez mais difícil. Há sempre discussão e alguém quer vencer. O diálogo é importante para que as pessoas que estão participando possam trocar ideias, opiniões, reflexões, e não, necessariamente, chegar a um consenso, apenas enxergar outros pontos de vista.
Nunca foi tão necessário falar sobre diálogo e discordância de opiniões. É completamente plausível ter visões diferentes e entender que existem vários lados. A democracia está fortemente ligada ao diálogo por se tratar de liberdade de expressão, sem julgamento e sem certo ou errado, apenas duas visões diferentes debatendo para que o outro possa de certa forma entender (podendo ou não concordar) o outro lado ou pelo menos saber o porquê ele existe.
Aprendemos em casa a não discutir sobre política, religião e futebol, temas que envolvem crenças e convicções. Aprendemos que ao tocarmos nestes assuntos, precisamos convencer o outro de que ele está errado e nós certos.
Marshall Rosemberg, sistematizados da CNV (Comunicação Não Violenta), costuma dizer que “longe do certo e do errado existe um lugar, nos encontramos lá”. Este lugar, é onde nos desapegamos de nossas certezas para abrir espaço para uma ideia diferente. Ouvir o outro, procurar compreender o lugar de onde vem esta fala, quais dores a motivam, que sonhos a sustentam é fundamental para compreender o porque o outro pensa assim. Compreender não implica em concordar, mas compreender pode permitir abrir um espaço de diálogo onde o ponto de partida seja o que temos em comum, e não em que diferimos. Se investíssemos mais tempo para elencar nossos sonhos comuns ao invés do caminhos para neles chegar, poderíamos encontrar inúmeras formas de sonhar juntos, colocando egos de lado, libertando-se de posições radicais.
O radicalismo é uma reação violenta a alguém ou algo que não compreendemos e não conseguimos decifrar, conversar e compor.
Quando não compreendemos algo colocamos em uma caixa junto com coisas similares também não compreendidas e rotulamos. Rótulos não descrevem idéias, apenas fazem generalizações. O exercício do diálogo com maturidade implica a disposição em ouvir com inteireza, por completo. Deixar o outro explicar coisas que até para ele não estão claras. Ele permite que o pensamento individual se torne coletivo, podendo inserir pessoas, situações que não faziam parte por algum motivo, seja por não ter visto outro ponto de vista ou não ter compreendido seu lado.
Mas, como não aprendemos a dialogar, continuamos a rotular, a ofender aquele que é diferente. Somos todos assim? Não, estamos distribuídos em vários níveis de maturidade pessoal, social e política. Por política, entenda-se a arte de viver em sociedade (polis). Também foi comum vermos nas conversas nas mídias sociais pessoas dizendo: “mudei de opinião”, depois de se abrirem ao argumento do outro. Não se trata de um convencendo o outro, um ganhando do outro, mas pessoas trocando e compondo, abrindo mão de alguns pontos, abraçando outros, e todos com uma sensação boa de que avançaram.
Vamos dialogar?