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O Jogo Interior da Vida

Luciano S. Lannes Por Luciano S. Lannes em 26/06/2019

Convido você a ler mais um artigo deste nosso dossiê. Desta vez do próprio Tim Gallwey, criador do Inner Game.

☺Leia em 10 min.

O Jogo Interior da Vida

Timothy Gallwey

Fundador do Inner Game

www.theinnergameschool.com

innertimgallwey@gmail.com

Quando eu comecei minha jornada de aprendizagem por experiências na década de 1970 não haviam livros nem cursos de formação em coaching. Foi uma grande surpresa quando, durante uma aula de tênis, o aluno inesperadamente começou a fazer mudanças em sua forma de jogar sem nenhuma instrução direta de minha parte. Aquilo me deixou confuso e pensei: como posso ser tão tolo. Perdi uma grande oportunidade de ensinar. Foi neste momento que percebi que algo estava errado, pois, eu como um coach, estava mais preocupado em dar as ordens e ser reconhecido por isso do que com o real aprendizado do aluno. A partir deste momento comecei a estudar como as pessoas poderiam aprender mais rápido e de forma agradável apenas observando e experienciando este aprendizado.

Décadas depois, e com muito mais experiência, posso afirmar que o Jogo Interior é aplicável para qualquer ser humano. Claro que coaches e empresas usaram estes conceitos por muito tempo, mas este jogo já era jogado há muitos e muitos anos, desde que reconhecemos a vida na terra. O jogo interior é jogado em duas principais arenas. A externa que fixa nossas metas e objetivos cotidianos e uma interna que nos alimenta de ideias e forças, podendo ou não nos levar a um resultado esperado. Em certos dias podemos estar ganhando este jogo, ou seja, sendo nós mesmos em nossa essência, e um outras jornadas apenas sendo bloqueados por pensamentos repletos de julgamento e medo excessivo.

No Jogo Interior – o método – temos uma denominação diferente para desenvolvimento ou mudança. Chamamos isto de Mobilidade.

Mobilidade é a capacidade de se mover na direção de resultados desejados de uma maneira que seja ao mesmo tempo gratificante e oportuna. Não é apenas uma mudança comum. Mudanças comuns, sem propósito, nos levam a resultados comuns. Alcançar esta mobilidade de forma agradável e em “flow” é uma forma de garantir que os resultados possam ser mais sustentáveis. O caminho passa a ser apreciado. Dentro deste conceito é muito importante que a clareza de propósito seja latente. Todos nós temos direito a esta mobilidade, ela faz parte de nosso hardware como seres humanos.

Para começarmos uma mobilidade, seja ela a busca de um objetivo simples ou a busca de algo mais complexo, é necessário criarmos a imagem exata de onde queremos estar. O que eu estarei pensando, sentindo e querendo quando eu atingir os resultados esperados? E mesmo criando um plano muito bem estruturado para chegar lá qualquer um também tem o direito de fazer mudanças ao longo do caminho, ou seja, se você está desenhando sua jornada de ponto A para ponto B – lhe é permitido mudar de ideia e tomar novo rumo, por exemplo para C.

Mobilidade deve ser plena e a nossa vida é alimentada por ela. Certa vez escutei de alguém que existem três tipos de pessoas e reações diante de uma situação difícil ou de conflito. Primeiro aquela que ao tomar contato com o obstáculo apenas recua e desiste. A segunda é aquela que enfrenta os obstáculos com todas as suas forças, sem medo, fazendo todos os esforços possíveis para ultrapassar o problema e avançar. Quando eu ouvi estes dois tipos fiquei imaginando qual seria o terceiro, afinal o segundo tempo me parecia muito positivo. Aí aparece o terceiro tipo. É aquele que diante do obstáculo dá um passo para trás, amplia seu campo de visão como se estivesse em um topo de uma montanha onde a clareza do que está por trás do problema seja nítida. Assim ele pode avaliar os reais riscos e decidir se vale a pena avançar ou é melhor recuar. Grande exemplo de mudança dentro de uma mudança.

Mobilidade está ligada ao grau de liberdade que temos. Quando crianças nossos pais estão preocupados em garantir nossa segurança e crescimento saudável, pelo menos é o que deveria acontecer. Quando adultos ganhamos nosso próprio grau de liberdade e passamos a ser o CEO de nossa vida. Ou seja, somos os proprietários de nossa empresa de valor incalculável – nossa vida. Ao longo dela, muitas vezes, somos convidados a vender ações desta empresa. Vendemos para obter reconhecimento ou sucesso. Em muitos casos podemos recomprar ações.

Coaching é um processo de aprendizagem por experiências que deveria ser focado em gerar mobilidade nas pessoas. O coach pode fazer seu papel de facilitador neste processo. O ser em mobilidade é chamado no jargão de coaching de “coachee”. Me parece que este nome pode estar ultrapassado, ele me remete a algo menor, de menos sabedoria, ou seja coloca o COACH em um nível elevado e o coachee em um estado aparente de submissão. Eu resolvi então chama-lo de “tomador de decisões”. Assim o papel do Coach passa a ser facilitar a mobilidade do “tomador de decisões”. Esta aparente singela alteração de terminologia faz uma tremenda mudança no processo, acredito eu.

Aumenta fortemente a relação de confiança e cria inúmeras possibilidades de consciência não julgadora que refletem em escolhas mais apropriadas. Assim o “tomador de decisões” possui múltiplas oportunidades e direito de dirigir seu próprio caminho.

Ter o propósito claro é um dos passos da mobilidade. Somente assim podemos alinhar nossas ações em busca dos resultados esperados. E estes resultados nem sempre são os mais óbvios.

Mobilidade deve ser acompanhada de satisfação. Não acredito no “no pain no gain” – “sem dor, não há ganho”. Quando comecei a pensar nesta relação do que seria um trabalho ideal cheguei a conclusão que qualquer atividade é orientada por uma performance, que pode ser atingida através de um ambiente que gere aprendizagem por experiência e satisfação ou flow. O meu melhor exemplo em relação a isto é uma mulher de seus quarenta e poucos anos que nos ajuda a arrumar a casa na Califórnia. Eu, certo dia, parei para observar como ela limpava as janelas com um sorriso no rosto e com tremenda satisfação. A curiosidade foi maior e perguntei a ela o que aquele trabalho aparentemente chato a fazia sorrir. Sem pensar duas vezes ela responde. “Tudo que eu faço é porque gosto de fazer. Eu sou líder da minha vida”.

Caramba, por essa eu não esperava. Ela me contou a dificuldade enfrentada ao ter que abandonar a família em meio a uma guerra na Nicarágua e mudar-se para os Estados Unidos – uma viagem que levou mais de dois anos. E ela reafirmou claramente: “Eu sou a líder da minha vida!”

Tenho certeza que ela aprendeu, através de sua experiência, como jogar e vencer seu jogo interior. Dia após dia, com felicidade, enfrentando os mais difíceis cenários. Um bom exemplo de resiliência.

Eu gosto de dizer que “a vida é um longo hoje.” Se você acordou hoje respirando este é mais um sucesso em sua vida. Mais um dia. Um novo prêmio. Como usar este dia da melhor e mais efetiva forma é o desafio de cada um.

Claro que o mundo está orientado à performance, geralmente relacionada com objetivos externos. Gerar mais resultados aos acionistas, aumentar as vendas, aumentar as margens. Mas muitas vezes nos esquecemos da nossa parte interna. O nosso verdadeiro eu. O real você. Usamos para sobreviver à sociedade, as nossas máscaras diárias. Esquecemos que temos a nossa disposição a maior, melhor, mais rica, mais respeitada, número um em todas as pesquisas, Universidade do planeta. Disponível para qualquer um. Você pode não saber mas já está registrado nela. Chama-se a Universidade da Vida, basta olhar para ela e interagir. Observar. Experienciar. Mergulhar em seus aprendizados. E a melhor notícia – ela é 100% gratuita. Portanto, aproveite cada minuto e curta.

Leia a apresentação do dossiê

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