Peter Drucker disse que a melhor forma de se prever o futuro é criá-lo. Faz todo sentido quando diz respeito a nossa vida e a temas sobre os quais temos alguma influência e domínio.
Entretanto, quando trabalhamos com nossos coachees, eles, frequentemente, nos surpreendem com frases, posturas, ideias, posições, para as quais ficamos sem ação naquele momento. Como podemos nos preparar para situações deste tipo?
Aumentando nosso repertório de experiências.
O mais interessante quando falamos em pessoas e experiências é que não precisamos necessariamente passar pela experiência, de forma literal, para tirarmos aprendizado dela. Por exemplo, se estamos na praia e vemos uma pessoa nadando a determinada distância e não conseguindo retornar à praia, sendo necessário que o salva vidas vá buscá-la e trazê-la em segurança de volta, não precisamos entrar no mar para compreender que há risco de sermos levados pela correnteza. Aprendemos com o outro, com a experiência do outro.
Esta capacidade do ser humano é fantástica e nos economiza muita dor, tempo e dinheiro.
A Revista Coaching Brasil tem exatamente este propósito, o que trazer informação, que se traduz em experiências para nosso cérebro e que nos permite traçar cenários, fazer paralelos, cruzar dados e, interiorizar conhecimento. Tudo através da leitura. Não é fantástico?
Veja este exemplo. Em nossa seção “Um outro olhar” um coach experiente analisa uma questão e apresenta uma reflexão sobre ela.
Em nossa edição 24, de maio de 2015, Claudia Gonçalves fez esta reflexão. Leia este artigo na íntegra abaixo.
Claudia Miranda Gonçalves
Coach e consultora sistêmica,
psicóloga e consteladora
organizacional
e.humano@gmail.com
Nossa coach Maria nos traz o seguinte caso:
– Estou iniciando no coach e ainda tenho certas dificuldades em meus
encontros.
O mais sério, que trago em busca de “um outro olhar”, é que meus
coachees são muito travados para definir tarefas e ações para após os
encontros e ai eu acabo dando a tarefa, por aquilo que eu “acho” que
surtirá mais efeito. Sei que estou sendo diretiva, que tenho que preservar
uma postura neutra, mas não sei se é por causa de uma vida inteira
opinando sempre que não consigo me calar. Estou totalmente errada?
Como posso mudar minha postura?
A questão que a Maria traz sobre a dificuldade dos clientes em definir tarefas e ações para
após os encontros é muito interessante e não ocorre apenas com coaches menos experientes.
Dito isso, não necessariamente é uma dificuldade do coach, mas antes do coachee. Dentro de
uma visão mais tradicional, nós nos faríamos as seguintes perguntas:
– Este sentimento de ansiedade ou de necessidade de ser diretiva é meu mesmo ou tem algo a
ver com o coachee?
– Se for meu como coach, o que este sentimento tem como função?
– Qual seu benefício?
– Se for reflexo de algo do coachee, posso compartilhar meu sentimento e observar sua
resposta?
– Quando sou muito diretiva, que aspecto de minha identidade está atuando?
– Que imagem faço de mim enquanto coach?
– Para ser a (o) coach que imagino, quem devo me tornar?
Eu especialmente gosto muito de pensar sobre isto, porque assim também entro em contato
com minhas crenças e necessidades. Ao me conhecer melhor como coach, posso também
entender melhor meus pontos fracos!
Essa dificuldade do coachee em estabelecer ações ou tarefas pode indicar alguma resistência?
O que esta resistência pode representar? A dificuldade pode ter a ver com um choque com
valores ou crenças do cliente em relação a meta.
Há clareza sobre a meta? Como estão seus “sentir, pensar e agir” em relação a meta? Quem
mais será afetado por sua meta?
Como coach, eu consigo abrir espaço para conviver e dar continência às dificuldades do
coachee? Se eu não consigo, qual a consequência? Que mensagem isso passa para o coachee?
Consegui de forma clara explicar ou oferecer critérios de como se constrói uma boa tarefa?
Dei exemplos?
Pode ser que o coachee queira me agradar ou me impressionar e acaba se bloqueando? Será
que ele imagina que exista certo ou errado para as tarefas?
Ao olhar esta dificuldade como algo que acontece entre coach e coachee, podemos ter mais
insights do que se olharmos a dificuldade como estando em um ou em outro como sugerem
as perguntas acima. É a interação entre coach e coachee que aqui podemos analisar. O que
trago de meus contextos que pode afetar a forma que peço ao coachee para definir uma
tarefa? O que acredito sobre ele quando peço que defina sua tarefa? Como o vejo?
Pode ser que como coach, inconscientemente, eu esteja vendo o coachee como alguém
menos capaz que precisa de ajuda – e não surpreende que ele não consiga especificar uma
tarefa. Ou ainda, que seja alguém que não tem clareza ou é confuso. E meu julgamento sobre
o coachee também influencia na resposta que ele dará.
Pode ser que eu imagine que como coach tenha que ser amplamente responsável pelo
sucesso do processo, por conduzir uma sessão perfeita! Aqui há o risco de assumir a
responsabilidade pelo cliente. Mas, o que acontece quando assumo a parte do cliente? Este
tipo de ajuda realmente ajuda? Será que no fundo não estou subliminarmente lhe subtraindo
a autonomia?
Portanto, não importa se somos coaches experientes ou inexperientes, sempre precisamos
estar alertas ao que se passa dentro de nós. Escutar também nossos diálogos internos e
sempre nos questionarmos se o que estamos sentido é nosso ou do coachee. Este estado de
alerta pode nos manter mais presentes, mais abertos a perceber o tecido invisível sendo
tramado durante as sessões. Se não nos atentamos ao terceiro elemento presente na sessão –
este tecido invisível – podemos correr o risco de agirmos em nosso piloto automático; e o
coachee também. E então não haverá mudança nem sucesso no processo de coaching de
forma sustentável e perene.
Manter uma visão sistêmica, ou seja, estar aberto a olhar as diversas dimensões e contextos
que atuam na sessão de coaching é um ingrediente importante para possibilitar a mudança
que o coachee busca. Na sessão temos a interação do coachee com o coach, o contexto de
cada um, as metas e a relação que ocorre entre os dois e seus contextos.
Se estivermos atentos também ao sentir – a tarefa está mais claramente conectada com o
pensar e agir – quem sabe destravamos?
Finalmente, uma última provocação: que sentimentos e padrões se ver como uma coach
inexperiente desperta em você, Maria? Alternativamente, que padrões e sentimentos se ver
como uma coach mais experiente lhe traria?
Qual a diferença?
Viu como saímos deste texto com outras opções, com outras visões?
Este é o poder que o compartilhar de experiências nos traz.
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Grande abraço,
Luciano Lannes
Editor