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Aqueles nove anos poderiam ter sido seis meses

Luciano S. Lannes Por Luciano S. Lannes em 10/01/2020

Muitos já conhecem um pouco de minha história. Trabalhei em uma grande multinacional alemã por 20 anos, antes de sair para montar meu próprio negócio na área de desenvolvimento humano. Aos olhos da família e amigos um exemplo de sucesso e conquistas. Aos olhos de meus pais, em particular, ambos funcionários públicos, a certeza de uma vida segura, estável e feliz. Aos vinte e um anos, já nesta empresa há dois anos, flagro uma conversa de meus pais na cozinha dizendo "agora nosso menino está seguro". Podem imaginar o que aquela frase fez com meus neurônios? Ela mergulhou no meu cérebro com tanta energia, impulsionada e fortalecida por tantas outras frases similares, ouvidas nos últimos vinte e um anos, que construiu fortalezas no inconsciente com direito a fosso com jacarés, ponte levadiça e arqueiros com flechas flamejantes prontos a combater qualquer ameaça à uma vida estável e segura. 

E assim os anos foram passando. Estabilidade sim, segurança também, mas a tal felicidade não estava presente e mostrava-se cada dia mais distante. Uma sensação de vazio, de falta de significado invadia meu peito a cada dia ao ir trabalhar. Tudo era ruim? Não, em absoluto! Muita coisa era boa, principalmente aquelas vinculadas com meus valores pessoais, como vim a descobrir vinte anos depois. 

Resumindo a ópera, depois de dez anos de empresa eu tinha uma certeza absoluta de que meu lugar não era lá. E agora? O que fazer? Jogar tudo para o alto? Lembro quando Ricardo Semler lançou o livro "Virando a própria mesa". Suas palavras e ações ecoaram na minha alma. E olha só que título sugestivo, exatamente o que eu queria tanto fazer. Mas.... sempre tem um "mas", Ricardo era um moço rico, herdeiro de um império, que foi estudar fora do país e voltou com a "cabeça virada", revolucionando a empresa da família. Eu, um funcionário de uma empresa, assalariado, sem nenhuma história de empreendedorismos na família, cercado de medos da instabilidade por todos os lados. 

O mais estranho é havia um "bichinho" dentro de mim que me impulsionava, que me provocava a mudar, a fazer diferente de toda a família. E cadê a tal da coragem??? Cadê meu caro Cortella que não escreveu seu livro "A sorte segue a coragem" naquela época? Nele, Cortella diz que "a sorte segue a coragem, desde que a coragem seja competente". Ele nos mostra também que coragem não é ausência de medo, mas sim, a capacidade de enfrentar o medo, e fala que é preciso desenvolver uma coragem competente. Aliás, como ele disse em uma de suas memoráveis palestras que tive o prazer de assistir, nada mais perigoso do que uma pessoa incompetente e mal informada cheia de coragem. 

Por não saber lidar com meus medos, e eles criarem estruturas, atitudes e comportamentos protetivos, que hoje chamamos de "sabotadores", fui mergulhando na amargura e na tristeza. Foram mais nove anos neste movimento até que a coragem entendeu que precisava ganhar competência para mudar. Naquela época não conhecia e nem sabia que havia algo chamado Coaching, e fui buscar elementos, dentro do meu universo, para gerar uma força com a qual pudesse me lançar para fora daquele mundo que não mais suportava. 

Participei da Amway, uma das precursoras do hoje chamado "marketing multinível", mas que conhecíamos como "pirâmide". Ao ser convidado para uma reunião, vi naquelas pessoas a energia empreendedora que eu tanto buscava. Filiei-me com a única intenção de me transformar. O negócio deles em si não me seduzia, mas a postura de segurança, força, segurança sim. Para desespero de meu patrocinador nunca vendi um sabonete, mas li todo o material e ouvi todas as fitas cassete, sim, leu certo... fitas cassete que eles lançaram. Este movimento me mostrou que havia outro mundo, com o qual eu estranhamente me identificava, pois não tinha nenhuma referência familiar ou próxima a mim. Comprei os fascículos de banca do Lair Ribeiro, que procurava popularizar a PNL. Fiz todos os exercícios propostos e aquelas muralhas internas começaram a desmoronar. Uma coragem nascia, mas agora uma coragem competente, baseada no vislumbre de um novo mundo possível, desconhecido sim, mas existente. 

Quando o marcador da energia interna e de uma segurança que invadia a seara da fé, pedi minha conta e lancei-me a um mundo novo. Muitos momentos difíceis vieram, pois não havia mais o salário garantido do final do mês, mas em momento algum, cogitei retornar. Havia definitivamente queimado os navios, detonado as pontes, e o caminho era para a frente. 

Quando conheci o Coaching, sete anos depois de já atuar como trainer e consultor, a primeira coisa que pensei foi: "aqueles nove anos poderiam ter sido seis meses". Sim, poderiam mas não foram. E a pessoa que sou hoje não existiria se houvesse trilhado outro caminho. Melhor, pior, nunca saberemos. Mas sei hoje que a cada momento "aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido" dadas as condições, meu repertório, meus modelos mentais, minhas certezas e incertezas, meus medos, minhas crenças e meus valores. 

Somos um mosaico formado por tantos pedacinhos, que cada intervenção, de alguma forma, modifica o todo. Hoje, me encanto com o Coaching como uma abordagem reflexiva que leva a pessoa a contemplar o antes não visto, a lançar sementes de ideias que nunca se sabe o que vai germinar, mas que fazem todo sentido. Encurtar processos de transformação, não de uma forma neurótica, premida pela pressa obsessiva de uma sociedade fascinada pela mudança, pela tal disrupção, mas de uma forma orgânica, calibrada, estruturada, criando competências para acalmar os medos. Aprendendo a ler as ansiedades, as emoções, os sonhos, e a sintonizar com o que realmente faz sentido em nossas vidas. 

Grosso modo, existem dois caminhos para grandes mudanças; o Coaching e o Mentoring. Na mentoria, recebemos a bagagem e a experiência de quem já passou por determinadas situações. A partir das experiências de outros, vamos atrás de mais elementos e construímos nosso próprio plano. O mentor precisa estar ciente de que sua experiência está contaminada e foi produzida a partir de sua formação, passos, erros e acertos anteriores e, principalmente, pela sua visão de mundo, suas crenças e seus valores. Um mentor para escalar o Everest é muito diferente de um mentor para formar um líder atualmente. A vivência de um escalador com 30 anos de experiência é extremamente válida e útil para os dias atuais. Ao contrário, um líder com vivência de 30 anos sente-se muitas vezes perdido e não sabe como lidar com os desafios de trabalhar com novar gerações que não se intimidam com cara feia, gritos ou assédios. O bom mentor mostra como ele subiu o seu Everest e convida seu mentorado a traçar paralelos com o Everest dele, que seguramente é muito diferente. 

Já no Coaching, o que me desafia e ao mesmo tempo fascina, é a não mistura de conteúdos, e a provocação e o constante convite para que o coachee explore o universo da aprendizagem. Desafiar modelos estabelecidos, crenças arraigadas. valores que não lhe pertencem, e construir um mundo muito mais autoral, lugar no qual mora sua força, sua energia, sua real segurança. 

Por um pouco destes fragmentos de minha história que compartilho com você, nasceu a Revista Coaching Brasil, por fazer parte de uma forma muito profunda do que faz sentido para mim, do compartilhar, do instigar o outro a crescer, expandir suas próprias fronteiras. Apoiá-lo na descoberta do seu próprio Everest e construir seu caminho para chegar lá. 

Se você tem sente que um ciclo está terminando ou já devia ter terminado, e sente que está patinando no mesmo lugar, saiba que um processo de Coaching pode ser transformador. Sem mágicas, sem coelhos na cartola. Apenas um processo estruturado, empático e conectivo com um profissional competente e devidamente habilitado. Se achar que eu possa ser este profissional para lhe apoiar, entre em contato. Se quiser indicação de outros, fale comigo também. 

Grande abraço, 

Luciano Lannes

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