Será que eles contam histórias ou nós é que construímos histórias em cima deles? A conversa deste texto tem muito a ver conosco, coaches, que recebemos informações de nossos coachees e estamos sempre a construir histórias dentro de nossas cacholas.
Vamos juntos nesta reflexão? Vou te contar algumas histórias.
Minha formação acadêmica está muito ligada às ciências exatas como engenharia e química. Sempre tive um lado muito lógico e racional que adora números. Há muitos anos me falaram sobre a definição de Estatística, uma definição que me encantou, pois tem uma verdade muito crua embutida na brincadeira. Diz assim:
Estatística é a arte de torturar os números até que eles mostrem o que você quer ver.
Isto mostra como o ser humano consegue distorcer até o que coisas tão racionais como números conseguem nos mostrar, dependendo do conjunto auferido e deliberadamente mostrado ou ocultado. O que quero tratar aqui é da história que os números contam e como a nossa visão, a nossa interpretação, tem um papel preponderante no tom desta história. Veja o exemplo da minha boa época de corredor de rua e maratonista. Especificamente, voltando 20 anos na história, na São Silvestre de 1999.
Quando em alguma roda de conversa saia o assunto da São Silvestre e seus 15 km pelas ruas de São Paulo, as pessoas me perguntavam em que lugar eu havia chegado. Sem pestanejar, e atento às reações que viriam, eu dizia: – cheguei em 5.201. Era muito divertido e interessante ver as expressões de desapontamento no rosto das pessoas. 5.201 parece algo horrível, desastroso. Só faltavam dizer, “então por que foi? “. Alguns tentavam me animar: – não liga não, ano que vem você melhora.
Se você que está lendo já teve ou tem experiência com corridas de rua, sabe que nós, mortais, não temos nenhuma pretensão de chegar na frente de algum queniano, nem fomos lá para isto. Os números de um corredor de rua amador tem um significado muito pessoal e contam, sim, uma história de muitas conquistas e superações. Mas vamos voltar a como os não corredores interpretaram aqueles números. A história que passa na cabeça deles, tratando-se de uma competição, é que existe um pódio (sim, existe a palavra em português, derivada de podium, em latim), que contempla classicamente os 3 primeiros lugares. Imagine como bate na cabeça do brasileiro comum, onde uma das frase populares é que o segundo lugar é o primeiro entre os últimos, ouvir que o “ser” chegou em 5.201. Nem devia ter ido, ganhava mais se ficasse em casa comendo churrasco e tomando cerveja, ainda mais no último dia do ano. Tá loco, arriscar enfartar na virada do ano…
Vez por outra, alguém dizia, “que máximo, então você fez a prova abaixo de uma hora e vinte minutos, super legal, estou treinando para isto”. Na cabeça desta pessoa, o mesmo número, 5.201, tinha um significado completamente diferente.
Mas voltando aos comentários dos não corredores, eu gostava de dar mais informação para ver como as percepções iam mudando conforme cada um ia reescrevendo a história.
Eu dizia: – Você sabe que corrida tem 15 km?
– Sabe que uma pessoa em boa saúde e razoável forma física caminha a uma velocidade de 5km/h?
– Isto quer dizer que ela leva 3 horas para caminhar os 15 km.
Com estes números, passavam a ter uma outra noção sobre o que significam 15 km, que só fazem sentados, de carro ou ônibus. Ai um dizia: – então você fez correndo, em menos da metade do tempo o que uma pessoa saudável faz andando, é isso?”
As feições já haviam mudado. A história já era outra. Então eu alimentava com mais dados:
– Sabia que neste ano largaram 12.312 corredores e destes, 10.815 completaram a prova?
– Isto quer dizer que 88% completaram a prova, sinal do excelente nível dos participantes.
E para arrematar, eu dizia:
– Olha que interessante, destes 10.815, bem preparados, que completaram a prova, eu fui mais rápido que 5.614 deles.
Agora os olhares já eram de admiração.
Veja como números em si, não contam nada, mas são uma importante fonte de informação, que junto com outras informações, nos permite montar uma história.
Para terminar esta reflexão, compartilho com você três números importantes para mim e nossa equipe que desde 2013 produz a Revista Coaching Brasil.
Este mês, lançamos nossa edição de número 76. Em todas elas, já publicamos 978 artigos que foram pensados e escritos por 479 autores.
Quando vi estes números senti uma vontade enorme de compartilhar nossa alegria.
Foram 76 meses ininterruptos de conteúdo sempre elogiado e com centenas de mensagens de agradecimento, de apoio, de reforço de que nosso trabalho é útil, relevante e que é essencial em um mundo cercado por tanta futilidade e superficialidade. Se chegamos até aqui, é porque você, leitor(a), encontrou valor em nossas páginas, e com sua atenção, presença e leitura, nos incentiva a prosseguir. Sobre o que estamos sentindo, alegria, Baruch Spinoza, filósofo holandês do século XVII, a define como a passagem para um estado mais potente do ser, potencia esta que reflete na forma de estar e de agir.
Assim, esta alegria, me impulsionou a agir, a escrever este texto para você, agradecendo com um pouco de história, pela sua atenção e presença, o que justifica a existência de quem produz e compartilha conteúdo.
Quer fazer parte desta e muitas outras histórias que estão por vir?
Enorme abraço,
Luciano Lannes
Editor da Revista Coaching Brasil
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p.s. focado em conteúdo, não consegui não falar: tem muito Spinoza em nossas páginas, 13 artigos para ser exato, e 3 deles sobre a sua obra, parte da linda coluna “Coaching e Filosofia” escrita pelo competentíssimo e querido amigo, Marcello Árias.