Por Ana Pliopas, PhD, MCC
Coach executiva e de carreira, professora universitária e pesquisadora, supervisora de coaches
ana.pliopas@icloud.com
Nosso coach João nos traz o seguinte caso
Sempre busquei cuidar de mim e me considero uma pessoa emocionalmente equilibrada, entretanto, em meio à pandemia do COVID19, estou muito ansioso: não desgrudo das notícias, a perda financeira em meus investimentos não me deixa dormir e tenho dificuldades para me concentrar em leituras. Mudei todos os meus clientes para encontros on line, mas estou inseguro e me pergunto se estou em condições de conduzir sessões de coaching.
Caro coach João, compartilho de sua angústia e posso garantir que o difícil contexto no qual estamos traz consequências para todos nós. Pesquisadores1 já descreveram o efeito que eventos drásticos, como por exemplo destruições por terremotos, tsunamis ou ataques terroristas, têm sobre aqueles cujo trabalho é apoiar outras pessoas. Nós coaches apoiamos outros em seu desenvolvimento e dessa maneira somos incluídos nas atividades de cuidado e suporte a pessoas. Atento à natureza da atividade que desempenhamos, o código de ética da ICF esclarece que coaches devem sempre lutar para reconhecer problemas pessoais que possam dificultar, entrar em conflito, ou interferir em seu desempenho como coach.
A dúvida é: como reconhecer se seus problemas estão interferindo em seu desempenho? Dormir mal uma noite traz inconveniências; um período de dias sem dormir é incapacitante. Antes de mais nada é recomendável que você busque um profissional habilitado para um diagnóstico e eventual psicoterapia.
Mesmo que você esteja apto a continuar exercendo sua atividade de coach, é importante pensar em atividade de auto cuidado. Essas práticas obedecem ao famoso princípio quanto a despressurização em voos de avião “coloque a máscara de oxigênio primeiro em você para depois ajudar outros”. Há autores2 e 3 que sugerem atividades de auto cuidado para os profissionais que cuidam de pessoas, como professores, profissionais da saúde e psicoterapeutas. Coaches podem se beneficiar de tais sugestões.
A primeira questão é reconhecer que o auto cuidado é essencial para coaches. Além disso, é importante admitir que somos vulneráveis e atingidos pelo contexto. Alguns profissionais ignoram suas próprias necessidades e no empenho de apoiar os outros podem esquecer de si mesmos. Um outro tema de auto cuidado é evitar o isolamento profissional: contar com o apoio de outros coaches e ter um espaço seguro onde os profissionais se apoiem mutuamente é uma estratégia bastante eficaz. A ICF criou uma página4 com diferentes sugestões para coaches lidarem com o momento de crise. Especialmente instrumental para ser caso, João é o artigo de Nina Bai5, da Universidade de São Francisco, que alerta que certa dose de ansiedade pode ser útil à medida que leva as pessoas a se protegerem. Por outro lado, muita ansiedade pode levar ao pânico, que aumenta ainda mais a insegurança de todos.
Mais um alerta: já foi evidenciado1 que as pessoas ficam muito afetadas assistindo à cobertura da mídia sobre crises. Dessa maneira, talvez você possa restringir seu próprio acesso a notícias a períodos específicos e curtos. Adotei esse procedimento (15 minutos de notícias duas vezes ao dia) e tenho conseguido estar informada e ao mesmo tempo não me sinto tragada pela crise.
Em resumo, João, sua preocupação quanto a estar apto a conduzir sessões de coaching porque está afetado pela crise mostra consciência da responsabilidade que você tem frente aos seus clientes. Cabe avaliar quão incapacitado você está, com o apoio profissional de um psicoterapeuta. Além disso, essa pode der uma boa oportunidade para que o auto cuidado seja uma prioridade para você.
Desejo ótimo coaching para você!
Ana Pliopas
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Referências:
1 - Sommer, C. A. (2008). Vicarious traumatization, trauma‐sensitive supervision, and counselor preparation. Counselor education and supervision, 48(1), 61-71.
2 - Skovholt, T. M., & Trotter-Mathison, M. (2014). The resilient practitioner: burnout prevention and self-care strategies for counselors, therapists, teachers, and health professionals (2nd ed.). New York: Routledge.
3 – Barnett, J. E. (2019). The ethical practice of psychotherapy: Clearly within our reach. Psychotherapy, 56(4), 431.
4 - COVID-19 Resources for Coaches. Retrieved from https://coachfederation.org/co...
5 - Nina, B. (2020, March 15). Feeling Anxiety About Coronavirus? A Psychologist Offers Tips to Stay Clearheaded. Retrieved March 19, 2020, from https://www.ucsf.edu/news/2020...