Qual a diferença entre Coaching e Terapia?
Esta é uma confusão comum no mercado e as explicações dadas são, por vezes, bizarras. Em primeiro lugar, vale esclarecer alguns pontos. Quando falamos, na sociedade, em terapia, estamos nos referindo, na verdade, à psicoterapia, aquela conduzida por uma pessoa com formação na área da Psicologia.
Porque esta explicação é importante? Porque o Coaching é terapêutico SIM, embora não seja psicoterapêutico. Terapêutico, porque uma pessoa que passa por um processo de Coaching reformula crenças, avalia atitudes, estados emocionais desencadeados por eventos, projeta futuro, investiga barreiras internas que a impedem de alcançar o que busca, etc. Enfim, ela passa por uma transformação sim, em um nível diferente daquele que ocorre na psicoterapia.
Uma explicação comum que várias escolas de Coaching propagam para dizer que Coaching não é Terapia, é que a Terapia olha para o passado e o Coaching olha para o futuro.
No mínimo, esta explicação é excessivamente simplista e perde assim qualquer fundamentação. O Coaching também vai investigar fatos e atos do passado em busca de padrões, de sentidos, que criem uma lógica que possa ser rastreada.
Outros dizem ainda que a Terapia lida com emoções e que o Coaching lida com fatos e metas. Encontramos no mercado coaches que fogem de qualquer tipo de emoção que o coachee traga para a conversa, e voltam a se abrigar na segurança dos fatos e foco na meta. Cabe lembrar que somos seres basicamente emocionais. Uma das melhores formas de fugir da investigação mais profunda do que se passa com o coachee, é o uso e abuso de testes e formulários.
Em nossa edição de número 2, de julho de 2013, Rodrigo Aranha, então Presidente da ICF - Capítulo Regional SP, cargo que voltou a ocupar em 2016, escrevia um artigo sobre "Quem contratar como Coach". Neste artigo ele estabelecia diferenças entre o Coaching e outras intervenções.
Em relação à Psicoterapia, ele diz:
A terapia lida com a busca de cura para uma dor, disfunção e/ou conflito dentro de um indivíduo ou nos seus relacionamentos. O foco é frequentemente voltado para a resolução de dificuldades decorrentes do passado que prejudicam o funcionamento emocional de um indivíduo no presente e, com isso, alcançar melhorias no funcionamento psicológico em geral para poder lidar com o presente de maneira mais saudável emocionalmente.
Para as definições de Coaching e sua abrangência, veja outra postagem sobre "O que é Coaching".
Traçando um paralelo entre o Coaching e Psicoterapia com um mergulho no mar, enquanto o Coaching trabalha em águas mais rasas, de forma geral, a Psicoterapia leva suas investigações para águas profundas, onde uma pessoa, mesmo com a melhor formação de Coaching, não tem embasamento e elementos para lidar. Isto não quer dizer também que o Coaching restrinja sua ação nos corais rasos de águas cristalinas e peixinhos multicoloridos. Um processo de Coaching pode ser muito profundo, sem invadir terreno que não é do seu domínio.
Como saber a fronteira?
Não existe placa mesmo. A sensibilidade de cada coach, aliada a um contínuo processo de formação continuada, estudos, leituras e, como abordamos em duas edições seguidas, supervisão, reconhecerá que o limite se aproxima. Na prática, sente-se como que um desconforto em pisar em um terreno realmente diferente. Parece que a temperatura muda, a paisagem, o solo, tudo. Não é raro em processos de Coaching bem estruturados, onde o coachee avança profundamente em seu processo reflexivo e de autoconhecimento, e ele mesmo em dado momento dizer "isto é tema para uma terapia".
Um processo de psicoterapia pode correr em paralelo ao processo de Coaching, e isto deve ser acordado entre coach e coachee, em função da questão a ser trabalhada através da psicologia, e se ela de alguma forma trava avanços no Coaching.
Finalmente, emoção é algo que não só pode, mas deve estar presente em um processo de Coaching. Tentar levar um processo estritamente na racionalidade significaria perder a maior parte das informações de que o coachee dispõe: - como ele se sente em relação a cada ponto. Trabalhar emoções é natural, não é preciso ter medo, e elas nos sinalizam para aspectos mais profundos, como valores que estejam sendo atendidos e outros que estejam gritando.
Isto posto, nos resta ver que tanto a Psicologia como o Coaching possuem raízes comuns, qual seja a investigação filosófica, o questionamento de certezas e a curiosidade pela busca de novos horizontes.
Todos buscamos conchinhas, mas em praias diferentes.